Pois é, moçada. Perdemos a copa do mundo. Só que isso foi a menor coisa que perdemos nos últimos anos. E não me refiro aos 30 bi desperdiçados com o evento, estou falando de algo que de longe é muito mais importante.
Há alguns meses, a Forbes liberou publicamente a lista com os números das 2000 maiores empresas do mundo, apurado em 2013. Quando eu vi isso, lembrei que havia guardado em algum lugar do meu HD a mesma lista da Forbes de 2009. Então caí na besteira de criar uma planilha onde fosse possível comparar como as coisas estavam lá atrás e atualmente. Se você quiser brincar com a planilha que eu montei para tirar suas próprias conclusões, pode fazer o download aqui.
Os números não mentem: enquanto o mundo andou para frente, o Brasil tomou o caminho oposto - fomos de mal a pior. E por que os números das grandes empresas são tão importantes assim? É simples: elas são o topo da pirâmide, e boa parte das empresas médias e pequenas estão ligadas na cadeia de fornecimento delas, direta ou indiretamente. Então de certa forma, se elas sofrem, todos sofremos, pois as grandes empresas vendem menos, pagam menos impostos, compram menos de seus fornecedores e percebe-se o resultado estampado no crescimento insignificante de nosso PIB. Como os gastos do governo só aumentam loucamente, a carga tributária tem que aumentar para compensar isso, e o resultado é a inflação crescendo e o poder aquisitivo caindo. E isso é um saco. Isso é a fórmula perfeita para nos levar de volta ao tempo do Sarney, antes do plano Real.
Para exemplificar o que aconteceu nos últimos anos, eu separei os dados de alguns países presentes na Copa do Mundo para vermos como a coisa evoluiu (para os outros) nesse período, com o cuidado de separar integrantes de dois grupos: países em desenvolvimento, como supostamente é o nosso (azul) e países desenvolvidos (em verde).
O primeiro quadro mostra o valor (em US$ bi) de mercado das maiores empresas de cada país. O valor das nossas empresas cresceu menos do que a média mundial nesse período, e muito muito menos do que outros países considerados “em desenvolvimento”. A verdade é que a velocidade de crescimento do mundo subdesenvolvido vem evoluindo bem, exceto a nossa:
Mas alguns dizem que o valor das empresas é vapor do mercado de ações. Ok, então vamos ao que realmente interessa: uma empresa saudável precisa ser eficiente e gerar lucro. E é exatamente aí, na eficiência que começa a aparecer a verdade verde e amarela: o lucro das grandes empresas brasileiras caiu vergonhosamente -4% nos últimos quatro anos, enquanto a média mundial foi de +50% de crescimento. Inclusive entre os nossos vizinhos que batemos nos estádios. Todos cresceram em lucro bem acima da média, menos nós:
No mapa da margem de lucro (lucro dividido pelo faturamento), o Brasil caiu da posição 23 que ocupava em 2009 para a posição 40 em 2013 – ou seja – tomamos de 17 e ninguém viu.
Mas estes exemplos comparando-nos a outros países participantes da copa do mundo servem muito bem para enxergamos as duas coisas fundamentais que perdemos nestes últimos anos:
1 – Perdemos a noção de quem somos e de onde estamos. Não somos um fenômeno. Não está tudo bem como o governo afirma. A música errou: desistimos facilmente e não temos orgulho ou patriotismo algum. Recolhemos a bandeira no mesmo dia em que perdemos a copa. Não somos, na maioria, um povo trabalhador - muito pelo contrário. A nossa classe C não evoluiu de verdade. Somos uma farsa da qual nos convencemos, graças aos programas assistenciais, aos carnês das Casas Bahia, e principalmente graças à nossa própria ignorância sobre o que realmente é um país desenvolvido, o que nos leva ao segundo item:
2 - Perdemos a noção do que precisamos realmente mudar. Não é mudar o governo. Sabe porque? Porque queira ou não, o sistema é perfeito. Temos e sempre teremos um governo que é a nossa imagem e semelhança. Portanto, não somos um povo honesto e trabalhador vitimado por um governo ladrão. Eles são malandros como a maioria de nós. Desculpe se você é esforçado, capaz, persistente e preparado. Não quis lhe ofender. Temos apenas que encarar a dura realidade de que a maioria do povo brasileiro não é assim, e por isso o governo, seja ele qual for, não vai ser assim. A resposta não vai ser dada nas urnas.
Acho que uma surra nunca veio em tão boa hora, pois a única forma de evoluir é ter uma visão clara da realidade. Nossa missão é bem mais difícil do que se recuperar de duas guerras. Temos que mudar uma cultura, e como já dito, uma cultura apenas se muda de baixo para cima, nunca ao contrário – e lentamente, bem mais lentamente do que reconstruir prédios e ruas. Não somos o país do futuro. Somos o país do, talvez, um futuro bem distante, isso se aproveitarmos a oportunidade e começarmos hoje. Só sei que amanhã estarei na batalha, fazendo a minha parte.
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