Se eu pedisse para você citar um segmento onde sem nenhuma dúvida, a inovação domina e sempre gera ganhos, qual você diria que é? Acredito que o segmento de Software seria citado como um dos primeiros, se não o primeiro, pois em poucas áreas ocorreu tanta inovação nos últimos dez anos como nessa.
Mas e se eu dissesse que apenas pouco mais da metade das empresas de Software no Brasil conseguem obter algum resultado significativo da inovação, seria surpreendente? Na verdade... não. Como sempre digo, a inovação não é apenas inspiração e criatividade. Inovação é uma atividade que depende de um conjunto de processos assim como qualquer outra.
E para comprovar isso, acabou de sair do forno (publicada em 3 de agosto de 2013) uma pesquisa sobre “Inovação aberta na indústria de Software”, comandada pelo Professor Dr. Paulo Henrique S. Bermejo, da Universidade Federal de Lavras. Você pode baixar a pesquisa aqui.
O que essa pesquisa com 596 empresas de diversos portes demonstra claramente é que as empresas que mais conseguem obter resultados com a inovação são aquelas que possuem altas taxas de:
- Estratégias para inovação organizacional
- Gestão de pessoas
- Comunicação
- Práticas e características de processos com foco em inovação
Mas, o que podemos observar de mais interessante é que essa pesquisa confirma que dois grandes mitos foram detonados:
Mito No. 1 – Detonado!: sabe aquele papo “vamos comprar uma empresa ou tecnologia inovadora para impulsionar o nosso resultado com a inovação”? Pois é... Em geral, isto não funciona. O maior ponto fora da curva que observamos na pesquisa é justamente esse. As empresas de pior performance em termos de inovação são as que mais praticam a transferência de capital intelectual (circulado na imagem do gráfico).
Esse efeito é fácil de entender: frequentemente vemos no mercado empresas pequenas e geniais sendo compradas por empresas maiores. Mas afinal por que a empresa comprada era genial e inovadora? Porque tinha pessoas geniais? Sim, mas eu garanto: pessoas geniais existem em todo o lugar, porém elas normalmente ficam apagadas por processos e estruturas antiquadas. E assim que o modelo de gestão da empresa compradora é propagado para a empresa genial recém comprada, a genialidade rapidamente se dissipa no meio de políticas, regras, procedimentos, organogramas e aprovações dos diversos níveis da velha e boa bullshit corporativa.
Mito No. 2 – Detonado!: Sistemas de código livre, ou Open Source, potencializam a inovação.
Um detalhe que chamou muito a atenção na pesquisa é que as empresas com melhores níveis de inovação são as que possuem menor nível de uso de tecnologias Open Source, sendo o contrário verdadeiro: quanto menor o nível de resultados com a inovação, mais a empresa utiliza Open Source. Portanto, mais um mito totalmente detonado.
Particularmente nunca achei que o Open Source fosse salvar a humanidade. Sempre vi essa frente apenas como “mais uma opção”, mas nunca como a única ou a principal. Outras pesquisas como a da ABES, mostram que apenas 4% do PIB de Software no Brasil é impulsionada pelo Open Source. E como sempre os comunas do governo apostando no cavalo errado...
Então vamos lá, lições aprendidas:
1 – Se você pretende comprar uma empresa ou tecnologia inovadora para impulsionar sua velha empresa, trate-a como uma unidade à parte dentro da organização, que não está sujeita às mesmas regras do restante.
2 – Se você quer que a inovação aconteça, estude e implante processos que façam com que as ideias criativas ganhem foco e sejam valorizadas. Se você quer algumas dicas, veja meu artigo sobre como criar um organograma que ajuda a inovação aqui.
3 – Nada de errado em adotar soluções Open Source, mas não deposite nelas suas esperanças de conseguir inovação. A maioria consegue, no máximo, criar atalhos para chegar a alguma solução mais sólida.
Sucesso,
Marcelo Lombardo
"E como sempre os comunas do governo apostando no cavalo errado... "
Concordo plenamente, um exemplo é aqui no estado do Paraná, onde o governo anterior incentivou o uso de Open Source em todas as áreas do governo, porém sua manutenção as vezes acaba ultrapassando o valor cobrado por uma tecnologia proprietária.
E o atual governo, esta aos poucos retornando para as tecnologias proprietárias.
Posted by: armi | 05/09/2013 at 19:34
Muito bom o artigo Marcelo.
Reforçando o que você disse. Uma empresa imbatível e inovadora, será aquela que conseguir direcionar a gestão do capital humano para o desenvolvimento do talento individual. Na prática, trocando em miúdos, vemos excelentes escritores publicando os textos em planilhas eletrônicas , e os excelentes matemáticos usando editores de texto.
Isso graças a alguns líderes que não entendem ou não querem desenvolver o seus talentos do time.
Posted by: Marcelo Vieira | 05/09/2013 at 21:37
Concordo plenamente. No governo não é diferente. No órgão onde trabalho, federal, o capital intelectual não suportou a burocracia, regras e principalmente os péssimos salários. De 21 profissionais concursados apenas 1 continuou no órgão. A autarquia então resolveu contratar fábrica de software e já está na segunda ou terceira, se não me engano. Todas abandonam o barco no meio do caminho.
Bons projetos foram paralisados para migração para Java com Jagar, porque era free... blá.. blá. Resultado: 2 anos de atraso. Tudo voltou ao que era antes, C# utilizando Visual Studio.
No órgão ainda existem bom capital intelectual em TI, até em outras áreas, mas a burocracia interna não deixa nada de inovador que estas pessoas fazem aparecer. Para completar existem dinossauros em algumas áreas estratégicas do órgão que não enxergam um palmo na frete do nariz quando o assunto é inovação, mas como são eles que manda...
Posted by: Willian | 08/09/2013 at 14:27
Compreendo que o custo de manutenção de open source é elevado. Porém creio haver um conluio que fez os profissionais de softwares open source elevarem seus patamares até mesmo acima dos patamares dos softwares proprietários, alavancados pelas empresas de treinamento e certificação. Sendo assim Microsoft e Cia não se amedrontaram, pois sabiam que a formação em soft open seria muito mais onerosa que proprietário, causando efeito dominó... Hoje usamos bancos de dados mysql e firebird, sem problemas, porém com linguagem proprietária. Temos dificuldade sim com linguagem, pois php, kylix, etc. tem difícil localização de fontes de consultas para problemas avançados, provavelmente efeito dessa "supervalorização" no conhecimento dos open source.
Posted by: Wilson | 10/09/2013 at 14:20
Excelente artigo!
Posted by: Paulo Milliet Roque | 16/09/2013 at 15:07
Olá Marcelo,
Muito bom seu texto, parabéns, e fico feliz que a pesquisa que desenvolvemos tenha te interessado.
Um abraço,
Prof. Paulo H. Bermejo.
Posted by: Paulo Henrique S. Bermejo | 14/10/2015 at 15:58